sábado, 12 de março de 2011

Fariseus - Parte 1: O legalismo

Talvez uma das maiores resistências à pregação do evangelho nos tempos de Jesus tenha vindo da parte dos fariseus.
Mas quem eram os fariseus? Um conjunto de pessoas de má índole agrupados em uma seita com o intuito de perturbar Jesus? Teriam todos os hipócritas da época se reunido e decidido formar uma seita? Poucos têm ou tiveram a curiosidade de questionar.
A conotação atual, de hipócritas e legalistas, deturpa o verdadeiro caráter dessa seita e, até mesmo, o real sentido da expressão.
A palavra fariseu significa “separado”, “santo”, “a verdadeira comunidade de Israel” e, como tal, esse movimento, surgido no século II a. C., pretendia trazer o povo de volta a uma submissão estrita à palavra de Deus.
Podemos imaginar o choque das pessoas quando Jesus chamou aos tais de “raça de víboras”, pois aos olhos humanos, se havia alguém fiel ao Senhor, certamente eram os fariseus. Tanto que Saulo, pelo seu zelo com a palavra de Deus, veio a se tornar um:
“Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu”. Atos 26:5
Então o que aconteceu entre o desejo de retornar à fé verdadeira e a deturpação da fé? Onde se perderam estes tais que desejavam ser santos, separados para Deus?
Seu primeiro erro foi se tornarem LEGALISTAS.
Não legalistas no sentido de seguir rigidamente a lei ou os mandamentos, mas em buscar estabelecer regras paralelas à palavra de Deus, preceitos de homens, acrescentando condições para a adoração a Deus.
Por exemplo: um dos mandamentos determinava a guarda do sábado:
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou”. Êxodo 20:8-11
Para assegurar a guarda do sábado os fariseus criaram 1.500 regras sobre como o sábado deveria ser guardado, entre elas havia uma que proibia a pessoa de carregar alguma carga de um lugar público para um particular e vice-versa. Entretanto, Jesus ao curar um paralítico no tanque de Betesda, num sábado, disse-lhe: “Levanta-te, toma o teu leito, e anda”.
Algum leitor mais afoito poderia afirmar que Jesus, dessa forma descumpriu a lei. Entretanto tal afirmação não se sustenta, bastando um mínimo conhecimento de hermenêutica e exegese para concluir que Cristo descumpriu na realidade os preceitos dos fariseus, afinal foi o próprio quem afirmou: “não cuideis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”.
Cristo procurou demonstrar o quanto as regras impostas pelos homens sobrecarregavam as pessoas com fardos pesados e que a intenção de Deus era que os homens tivessem um relacionamento íntimo com Ele. O sábado fora criado para o homem, para que o homem pudesse ter um dia livre de suas tarefas e dispusesse de tempo para comunhão com o Criador.
Os fariseus queriam ser legalistas? Não. Entretanto, sob o pretexto de fazer a vontade de Deus, os fariseus terminaram por criar regras que não se encontravam na Palavra do SENHOR, e pior, deturparam a simplicidade da adoração.
Isso é ser legalista: esquecer-se do que realmente importa, apegando-se a doutrinas de homens, julgando e condenando todos aqueles que não se enquadram em seus preceitos e limitando o poder salvífico da obra redentora de Jesus.
Embora com sinceras intenções, muitas igrejas, infelizmente, têm caído nessa armadilha hoje em dia.
E não podemos nos enganar pensando que os fariseus da atualidade serão delatados pela forma de vestir ou carregar a Bíblia. Jesus disse: “Pelos seus frutos os conhecereis”. O legalismo, a religiosidade, consiste nas atitudes.
Na intenção de fazer valer sua fórmula pré-determinada de adoração, fruto de uma visão deturpada da Palavra do SENHOR, ou de buscar honrarias dos homens, os fariseus procuravam destacar o quanto eram zelosos da Lei, o quanto buscavam a Deus (mais do que os símplices do povo).
Assim, os fariseus de nosso tempo apregoam aos quatro ventos suas “experiências com Deus”, o quanto são “espirituais”, mais do que as outras igrejas, perdidas da visão.
E muito se engana quem pensa que tal pensamento advém de igrejas mais radicais quanto à vestimenta ou outros costumes. Os fariseus podem ser encontrados em qualquer lugar.
É surpreendente como o fariseísmo pode ser observado até mesmo entre as igrejas mais inovadoras.
Partindo do princípio (errado) de que aqueles cuja vestimenta é mais formal e cuja bíblia surrada anda sempre embaixo do braço são legalistas e “fariseus”, muitos têm criado um fariseísmo às avessas: por não andar com a Bíblia embaixo do braço e se vestirem de forma mais descontraída se consideram mais aceitos por Deus.
Misericórdia! Quem afirmou isso?! Quem nos deu autoridade para julgar uma ou outra denominação?
“Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?”
Mateus 7:1-3
Ninguém será mais aceito por Deus pela roupa: seja ela terno ou bermuda. Deus não se preocupa com o exterior e tampouco nós deveríamos julgar um irmão em Cristo pela roupa que usa.
Mais grave ainda se torna essa atitude ao percebermos que não somos juízes, somos todos réus. Se deus não nos sustentar, caímos todos os dias. Pela misericórdia do SENHOR é que possuímos Jesus como nosso advogado.
Acusar os irmãos é pecado. Não existe pai que aceite um filho falar do outro, da mesma forma Deus não se agrada daquele julga a seus irmãos.
Entretanto, em nome da fé, muitos têm matado por meio de palavras e críticas que destróem ao invés de edificar. Não conhecem o perdão de Deus.
Quantas pessoas foram escorraçadas das igrejas por causa das doutrinas de homens? Por quê não pularam que nem pipoca e então foram imediatamente rotuladas como “crente gelado”? Ou por quê adoraram de forma não convencionada pelos homens e passaram a ser vistas como “fanáticas”?
Quantos disseram: Ah! Se foram embora é por quê nunca foram daqui!
É assim que Jesus agiria?!
Raça de víboras! Talvez Cristo repetisse essa expressão. Víboras que destroem e matam com o veneno que, vindo do coração, sai pela boca (a boca fala do que o coração está cheio!).
Não extingais o Espírito! Deus age de diversas maneiras. Não podemos exigir que um ancião adore a Deus pulando e sacudindo os cabelos e tampouco que um jovem contenha o seu ímpeto inovador. Porém, um e outro, receberão de Deus não pela forma exterior de adoração, mas pela verdade de sua adoração.
Também é preciso salientar que:
“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.
E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.” 1 Coríntios 12:4-7
Por fim, além de orar, precisamos refletir sobre nosso “culto racional” e vigiarmos constantemente para não cairmos na armadilha do legalismo. Cabe aqui uma lista de posicionamentos que, inconscientemente, muitos adotam sem estarem alertas a esse perigo:
1. Sentir a necessidade de suprir todas as expectativas e ganhar a aprovação de seus amigos e familiares e irmãos da igreja.
2. Ter a vida espiritual definida e determinada por um líder, mestre, orientador, ao qual se procura agradar, como forma de agradar a Deus.
3. Acredita que ser membro da única igreja verdadeira e que todos cristãos restantes são sinceros, mas iludidos.
4. Acreditar que o caráter de uma pessoa pode ser determinado por sua roupa, corte de cabelo, tatuagem, etc.
5. Preocupar-se com o mau uso que as pessoas poderão fazer da graça, partindo para o desregramento e o excesso de liberdade, que, ao seu ver, é pecaminosa.
6. Sentir-se culpado caso não atenda cada serviço e atividade de sua igreja. Pensar, caso isso ocorra, que está em falta com Deus.
7. Valorizar alguma característica em detrimento de outra. Por exemplo: vislumbrar a simplicidade como sinônimo de santidade, logo se alguém veste uma roupa simples é homem/mulher de Deus. Do contrário, aquela pessoa que usa terno é hipócrita.
8. Entender que as regras de sua denominação religiosa, são as mais corretas, senão as únicas suficientes pra salvar o mundo.
"Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te."

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